Goretti Palhano - Escolher seu próprio sonho de felicidade

Dar outra direção à vida, transformar o trabalho, morar em outra cidade ou país, viver prazerosamente e expressar um divertido hobby para o mundo parecem situações simples para quem deseja uma transformação pela qualidade de vida. Infelizmente, não são. Ter atitude e decisão em benefício próprio é algo que precisa de muita coragem, determinação e confiança em si na própria vida. "É você acreditando naquilo e o mundo inteiro ao teu redor dizendo que isso não vai dar certo", relata Goretti Palhano, a fisioterapeuta que trabalha com acupuntura e que, agora, ao lado do marido, Tonny Palhano, assumiu o tango como profissão e opção de vida.

Foi a dança a responsável por uma revolução na vida dos dois. O tango faz parte do mundo de Goretti desde a infância, quando ouvia e dançava com o seu avô materno, ainda bem pequena, com idade entre seis e sete anos. "No café da manhã mesmo eu e meu avô ouvíamos e dançávamos tango", relembra.

Retorno ao tango

Uma das certezas de sua vida era ser bailarina. Começou com o balé clássico e, em seguida, explorou toda a criatividade da dança do ventre. As duas modalidades acabaram a levando para a desenvoltura da dança de salão e, finalmente, retornou sem perceber ao próprio tango.

Depois de um tempo parada, Goretti ganhou um bolsa para fazer aulas da dança argentina. Foi daí que se deu o encontro com Tonny, um ex-militar que trocou as Forças Armadas pela dança de salão e que, mais tarde, se tornaria seu marido. Durante algum tempo ele conciliou as duas atividades, porém, ao perceber a verdadeira paixão pela dança, não hesitou em trocar as armas pelas sapatilhas. O que antes era uma brincadeira, virou profissão. Tonny tornou-se professor de tango e Goretti sua aluna aplicada. A parceria foi tão bem-sucedida que os dois passaram a se aprimorar de tal modo no tango que chegaram a montar uma academia a fim de preparar novos profissionais para apresentações artísticas. Na sequência foram convidados para dar aulas, workshops e viajar pelo Brasil para mostrar a sua arte. No final do ano, prepararam um espetáculo de dança que será reapresentado este mês.

Assumir a dança como profissão para Tonny e Goretti Palhano não foi fácil. Quando era militar, Tonny enfrentava preconceito dos colegas. "Faziam piada comigo como ´cadê a sapatilha?´, pelo fato de eu gostar de dançar", lembra ele, relatando que a família também questionava como ele iria viver.

Já Goretti destaca que só conseguiu ter a dança como trabalho depois que se formou. "Meu pai disse que eu poderia até dançar, mas antes tinha que ter um diploma. E eu tenho dois", conta ela, acrescentando que, para assumir um sonho como a dança é preciso muita coragem. "O medo é grande, teve muito choro", comenta.

Do ponto de vista financeiro, Goretti diz que quase não há diferença no salário e que, na maioria das vezes, ganha mais dinheiro com as apresentações do que no consultório. "Só atendo três ou quatro pacientes por dia. No restante de meu tempo procuro utilizar para fazer um exercício funcional, tudo com o objetivo de preparar bastante o meu corpo para a dança. Hoje, estou fazendo ginástica olímpica", conta a fisioterapeuta.

Não se acomodar

Para a psicóloga Adriana Gomes, que foi uma das alunas aplicadas e chegou a fazer aulas, aprendendo a dança do ventre com a professora Goretti, há pessoas com grande dificuldade em promover mudanças em sua vida. Ficam, segundo ela, em um campo de estagnação, paralisadas pelo medo do novo.

Aliando terapias complementares à Psicologia, tais como a meditação, Reiki e florais de Bach, ela cita a essência Chestnut Bud, exatamente para o caso de as pessoas não aprenderem as lições que a vida proporciona, obrigando-se a repetir indefinidamente algumas experiências desagradáveis. Significa que, muitas vezes, a pessoa sente que cai sempre no mesmo buraco.

O ciclo de repetição (re = de novo, petição=pedido) só ocorre quando não se aprende o acontecimento ensina. "Há pessoas que têm muita dificuldade em lidar com o novo. Para elas, é muito difícil soltar o que está ruim por ser assustador lidar com situações novas. Escolhem ficar com o que já conhecem, mesmo não sendo o que querem ou sonharam", sinaliza.

Qualquer novidade exige que se renuncie algumas coisas. Lidar com essas possíveis perdas nem sempre é satisfatório para algumas pessoas, que nunca querem perder ou deixar nada para trás, como é necessário nos momentos de mudanças. O essencial é nunca se acomodar, uma vez que as zonas de conforto que vão sendo estabelecidas ao longo de nossas experiências de vida são muito perigosas, por significarem estagnação. E quando se estagna na vida é praticamente impossível qualquer tipo de mudança e avanço.

Fazer o que se ama
No final deste mês, o casal Tonny e Goretti Palhano deixa Fortaleza para morar em Buenos Aires em busca do sonho de se profissionalizar no tango. "Eu nunca vi nenhuma fortuna ser criada com pessoas fazendo o que não amavam. As pessoas devem crer que a melhor coisa é investir seu tempo no que mais apreciam e não deixar que ninguém lhes diga que não é possível. Eu perdi parte da força, flexibilidade e equilíbrio do corpo por conta de um acidente vascular cerebral (AVC) há 10 anos. O médico disse que seria impossível eu voltar a dançar, mas não desisti e recuperei todas essas habilidades através da dança. Hoje, sem dúvida, danço muito melhor. Temos que acreditar em nosso potencial e procurar alguém que nos encaminhe, que tudo acaba dando certo", assegura Goretti .

Outro que também fez uma opção séria em sua vida há alguns anos foi o professor universitário Nivando Bezerra, 37. Recorda que tinha dois empregos e trabalhava muitas horas por dia. Apesar de adorar dar aulas, estava cansado e não tinha tempo para atividades que gostava nem para ter qualidade de vida.

Foi então que decidiu largar um dos empregos. Desde então, passou a fazer esportes, prática que gosta muito. Também optou por aprender coisas novas, como surfar e falar alemão. "Sempre gostei de esportes, mas ficava difícil conciliar com a rotina de trabalho. Dei uma desacelerada e agora consigo trabalhar e fazer outras coisas de que gosto, como voar de parapente, fazer natação, fotografar e, mais recentemente, estou aprendendo a surfar", relata Nivando.

A busca pela qualidade de vida sempre esteve presente em sua vida. "Desde a faculdade, eu ficava observando os meus colegas em busca de empregos e eu sempre quis dar aula. Gosto muito de estar entre os jovens, de passar o conhecimento que adquiro. É sempre um aprendizado muito grande", conta.

Ainda querendo fazer muitas coisas prazerosas, Nivando brinca dizendo que tem dias que se sente "realmente feliz e outros que se sente cansado" pela grande quantidade de coisas que hoje consegue fazer. No entanto, acha difícil diminuir a quantidade de trabalho, quando todas as pessoas só pensam em produzir. "É complicado quando todos afirmam que você não quer trabalhar porque é preguiçoso. Na verdade, você quer mesmo é fazer o que gosta, se sentir bem e feliz", confirma o professor

Mais abertura para o novo
"As mudanças não acontecem de uma hora para outra. Tudo é um processo na vida da gente. Primeiro, precisam ser idealizadas para depois serem processadas e realizadas". O testemunho é da médica pediatra Verônica Porto Freire, que recentemente realizou um sonho antigo de criar um centro de terapias holísticas, o Tricaya Center.

Isso não significa, no entanto, que ela tenha abandonado a medicina pediátrica. "Pelo contrário, estou cada vez mais dedicada às minhas crianças, que são os seres mais puros que existem e me inspiram muito", explica. Continua com suas atividades no hospital e consultório.

Fazer algo diferente, conforme ela, faz parte da sua missão na terra. "Eu ouvi a minha voz interior. Como sei que o futuro é fruto do agora, sempre me mantive aberta ao novo. Cada um tem a consciência de saber o que fazer e buscar seu próprio caminho ", ensina.

Abrir o Tricaya Center, para Verônica, foi na realidade a materialização de um desejo profundo. Ela conta que passou anos planejando tudo em sua cabeça. De forma repentina, lembrou que sua família já possuia o terreno perfeito. "Quando você resolve fazer, acaba tendo a certeza daquilo e mergulha de cabeça", afirma.

Desejava atuar em um local silencioso e com muitas árvores. No espaço que criou já estavam lá dois cajueiros que tomavam quase todo o terreno, oferecendo muita sombra. Também várias salas, incluindo a de seu consultório pediátrico.

Praticante de meditação, yoga, reiki, terapia da respiração e, agora, recém-formada em Constelações Familiares, em uma recente viagem à Índia, confirmou ainda mais seu amor pelas crianças, se vendo em vários momentos rodeada delas.

A medicina sempre foi a sua vocação, admite Verônica. "Foi a medicina que me libertou do medo", conta. Desde criança, cuidou da mãe que tinha asma e, pelas limitações físicas dela, também cuidou dos irmãos pequenos. "Acho que sou pediatra por isso".

Observa o medo do novo como algo natural. Ressalta, contudo, ser necessário enfrentar o medo para superá-lo e, então, evoluir e crescer. "O medo existe porque Deus fez tudo perfeito. Só que, de forma equivocada, pensamos ser imperfeitos". Além das terapias, seu espaço tem dança, tai chi chuan e rituais do fogo e da lua.

Paixão de colecionador que virou negócio
"Tudo o que eu tenho hoje é consequência do meu hobby", diz Silvyo Amarante, ex-militar apaixonado por revistas desde o seis anos de idade. Hoje, aos 57 anos, vive dessa antiga paixão e declara não se arrepender de ter mudado de vida para se tornar um colecionador de magazines e dono da maior "comic shop" da cidade.

Nos anos 70, Amarante foi militar, chegou a ter uma casa lotérica (não por acaso chamada de Quadrinhos Lotérica), porém, nunca deixou de lado o amor pelas coleções. Segundo ele, em todos os lugares nos quais viveu era de praxe ter um local só para guardar seus exemplares. Seu acervo chega hoje a 1,5 milhão de revistas de todos os gêneros, guardado em mais outros quatro depósitos.

O colecionador conta que seu pai, que só aceitava seu hobby por conta das boas notas na escola, disse que "ele só daria para o jogo ou para ter uma livraria". E estava certo. No entanto, não conseguiu conciliar os dois negócios e continuou só com a loja de revistas, aberta há 15 anos em uma antiga casa alugada na Av. Pontes Vieira.

Hoje, a comic shop Revistas e Cia guarda preciosidades como o primeiro exemplar da Revista Cruzeiro (primeira paixão de Amarante), mas também é recheada de novidades como os famosos mangás japoneses, que tanto fascinam os jovens de todas as idades.

O comerciante diz que sua maior felicidade na vida tem sido trabalhar no que gosta e lembra ter enfrentado muitas críticas por isso. "Às vezes fico sem saber se estou brincando ou se trabalhando", se diverte.

Renunciar ao sofrimento

Abrir novas portas, segundo a psicóloga Adriana Gomes, requer coragem e muita determinação. Além do amor por aquilo que se pretende realizar. Nem todos querem renunciar alguma coisa para obter o que deseja. Há pessoas que conduzem uma relação matrimonial que não suportam, por não desejarem renunciar nada. "O medo de se ficar sozinho é muito grande, embora muitos não queiram mesmo renunciar ao seu sofrimento. Não raro, acabam encontrando outra pessoa - um novo "amor" - para cuidarem, repetindo o velho padrão".

Há épocas de grandes desafios. Como determinadas áreas desafiadoras a cada um de nós, sinaliza a psicóloga, que indica terapias complementares para auxiliar nos processos de mudança. São formas de dar um "empurrãozinho", para o encorajamento de se conquistar a vida que se deseja.

A psicoterapia é um bom recurso. Aliada aos florais de Bach, meditação, renascimento, abordagens corporais, biodança, entre outras, costumam contribuir bastante para esse enfrentamento. As terapias energéticas, como o Reiki, são bastante eficientes em momentos de cruciais que antecedem às mudanças, importantes ao crescimento. Tudo isso contribui na eliminação de antigas cargas que não são mais necessárias, tornando o processo menos assustador do que aparenta ser.

Adriana revela ser fundamental observar que todos temos dentro de nós o lado que resiste às mudanças por medo. Quando identificamos esse medo e o enfrentamos, saímos da paralisia. "O amor à vida é o sentimento essencial".

É o amor e não o medo, diz, que revela nosso ser autêntico e faz com que nos manifestemos de forma congruente com nossos ideais. Quando estamos inteiros, irradiamos confiança.

Cometer loucuras

Silvyo Amarante conta que já cometeu várias loucuras em busca de seu sonho. Além de ter deixado as faculdades de Administração e Economia nos últimos semestres, revela ter comprado, aos 10 anos de idade, cerca de duas mil revistas, sem ter dinheiro algum. Ao chegar e casa, seus pais disseram a todos que o menino era louco e acabaram comprando todos os exemplares.

E não parou por aí. Ele chegou a vender um terreno - herança de seu pai - para comprar um valioso acervo de um colecionador. Mesmo sofrendo reprovações, ainda comemora, pois ganhou cerca de três vezes mais do que gastara vendendo apenas poucos desses exemplares.

Hoje, revela se sentir feliz e realizado com sua loja, embora creia que todas essas obras valiosas não devessem estar com ele. "Acho que deveriam estar em algum lugar para que todos pudessem ter acesso. Trabalhar com arte no Ceará é complicado", desabafa.

Em breve, Amarante lançará um livro que escreveu na época em que era militar. "Mundografia Moderna", o qual contará com ilustrações de Glauco Sobreira, mais um sonho realizado pelo colecionador.