Justiça para Aluísio Palhano

O Ministério Público Federal (MPF) ingressou nesta segunda-feira, em São Paulo, com ação civil pública pedindo o afastamento imediato, a perda dos cargos e aposentadorias de três delegados da Polícia Civil paulista que teriam participado diretamente de atos de tortura, abuso sexual, desaparecimento forçados e homicídios, em serviço e nas dependências de órgãos da União, durante o regime militar (1964 - 1985).
A ação pede a responsabilização pessoal de Aparecido Laertes Calandra, David dos Santos Araujo e Dirceu Gravina, os dois primeiros aposentados e o terceiro ainda na ativa. O MPF pede, também, a reparação por danos morais coletivos e a restituição das indenizações pagas pela União. Capitão Ubirajara, capitão Lisboa e JC, codinomes utilizados, respectivamente, pelos três policiais enquanto atuaram no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), foram reconhecidos por várias vítimas ou familiares em imagens de reportagens veiculadas em jornais, revistas e na televisão.
Os procuradores da República que propuseram a ação colheram relatos de ex-presos políticos e de seus familiares vitimados pelos atos dos três policiais, além de reunir depoimentos retirados de documentos como processos de auditorias militares, arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e livros, entre eles Brasil: Nunca Mais e Direito à Memória e à Verdade.
Pela documentação e depoimentos colhidos pelo MPF, os procuradores relatam na ação que, sob a alcunha de capitão Ubirajara, o delegado Aparecido Laertes Calandra participou da tortura e desaparecimento de Hiroaki Torigoe, da tortura, morte e da falsa versão de que Carlos Nicolau Danielli fora morto em um tiroteio, da tortura do casal César e Maria Amélia Telles, além de participar da montagem da versão de que o jornalista Vladimir Herzog teria cometido suicídio na cadeia. Reportagens dão conta de que Calandra teria participado também de torturas contra Paulo Vannuchi e Nilmário Miranda.
O depoimento de Maria Amélia Telles ao MPF mostra métodos de tortura física e psicológica aplicados por Calandra e outros agentes a serviço do Doi-Codi, como o uso de seus filhos visando constranger os depoentes em busca de "confissões". Maria Amélia relata que, numa oportunidade, após terem sido barbaramente torturados, ela e o marido foram expostos nus, marcados pelas agressões, aos filhos, então com 5 e 4 anos de idade, trazidos especialmente para o local como forma de pressioná-los. Ao ver os pais, a filha perguntou: "mãe por que você está roxa e o pai, verde?".
O atual presidente do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa, Ivan Seixas, preso aos 16 anos, junto com o pai, Joaquim Alencar de Seixas, torturado e morto pela equipe do Doi-Codi da qual participava David dos Santos Araújo, o "capitão Lisboa", relata que este era o que mais lhe batia. Como forma de pressão sobre ele, os policiais o levaram para uma área próxima ao Parque do Estado, então deserta, e simularam seu fuzilamento. Depois, o colocaram em uma viatura e foi apresentada a ele a edição da Folha da Tarde em que a manchete anunciava que seu pai fora morto pelas forças repressivas. Ao chegar no Doi, seu pai ainda estava vivo.
Depois da prisão de Ivan Seixas e de seu pai, sua casa fora saqueada e sua mãe e irmãs testemunharam, com ele, as torturas a que seu pai foi submetido. Uma de suas irmãs relatou ao MPF ter sido abusada sexualmente por Araújo. O pai acabou morrendo naquele dia nas dependências da prisão.
O mais jovem dos três policiais e até hoje no cargo de delegado da Polícia Civil, em Presidente Prudente, Dirceu Gravina era chamado pelos colegas de JC - uma alusão a Jesus Cristo por, à época, com pouco mais de 20 anos, manter os cabelos compridos e lisos e usar crucifixo - e é lembrado nos relatos por sua violência e sadismo.
Avesso à imprensa, Gravina foi reconhecido em 2008 por Lenira Machado, uma de suas vítimas, após aparecer em reportagem sobre investigação que o delegado conduzia acerca de "um suposto vampiro que agia na cidade de Presidente Prudente e mordia o pescoço de adolescentes". Presa por três dias no DOPs, Lenira teve toda a roupa rasgada por Gravina e outros dois policiais quando foi transferida ao Doi-Codi, ficando por 45 dias apenas com um casaco e lenço.
Em seu primeiro interrogatório no Doi-Codi, Lenira foi pendurada no pau de arara e submetida a choques elétricos. Nesta sessão de tortura, conseguiu soltar uma de suas mãos e, combalida, acabou por abraçar Gravina - que estava parado na sua frente, jogando água e sal na boca e nariz da presa. O contato fez com que o delegado sentisse o choque, caindo sobre Lenira e, em seguida, batendo o rosto, na altura do nariz, em um cavalete.
Após algumas horas, Gravina voltou do Hospital Militar, onde levou pontos no rosto, e retomou a tortura, a ponto de provocar uma grave lesão na coluna de Lenira, e, mesmo assim, não suspender a prática. A tortura contra ela era tão intensa que, em um determinado dia, teve que ser levada ao hospital, onde lhe foi aplicado morfina para poder voltar às dependências da prisão.
 
Gravina ainda é apontado como o último a torturar o preso político Aluízio Palhano Pedreira Ferreira, dizendo a outro preso, após Palhano parar de gritar de dor, que sua equipe tinha acabado de matar o colega, ameaçando-o na sequência. "Agora vai ser você!" Desde então, nunca mais se teve notícias de Aluízio, desaparecido até hoje. 
Também foram vítimas de Gravina os presos políticos Manoel Henrique Ferreira e Artur Scavone.
Reconhecimento
Apesar do uso de apelidos (Calandra, por exemplo, não admite ter sido o capitão Ubirajara), os ex-policiais foram reconhecidos, em diversas oportunidades, em entrevistas à imprensa e em depoimentos ao MPF, pelos presos políticos. Ivan Seixas relata também que, durante as torturas, ao se referirem uns aos outros, os policiais se traiam, chamando os colegas pelo prenome.
Algumas vezes, chegavam a se identificar. Em uma ocasião, ao transportar Seixas numa viatura, Araújo voltou-se para ele, mostrou a carteira funcional e disse: "sou o delegado David dos Santos Araújo e não tenho medo de você".
Esta nova ação é mais uma das iniciativas do Ministério Público Federal em relação às violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar no Brasil. Essa atuação teve início em 1999 por meio da tarefa humanitária de buscar e identificar restos mortais de desaparecidos políticos para entrega às respectivas famílias.
Com o desenvolvimento das investigações, o MPF identificou que o processo de consolidação da democracia e reafirmação dos direitos e garantias fundamentais suprimidos pela ditadura requer do Estado brasileiro a implantação de medidas de Justiça Transicional: esclarecimento da verdade; realização da justiça, mediante a responsabilização dos violadores de direitos humanos; reparação dos danos às vítimas; reforma institucional dos serviços de segurança, para que respeitem direitos fundamentais; e promoção da memória, para que as gerações futuras possam conhecer e compreender a gravidade dos fatos. O objetivo dessas medidas é evitar que atos tão desumanos se repitam.

Jomar Monteiro

Referências mitológicas ligam as obras de Jomar Monteiro a um clima épico

A pintura de Jomar Monteiro se destaca dentro de um contraste íntimo entre a tradição histórico-cultural e um impulso profundo, individual, como bem se evidencia das obras que tratam de temas renascimentais como uma certa aproximação ao século XIX.

Trata-se de uma pintura intimamente entrelaçada sobre uma dialética que se instala exatamente quando o artista deseja se libertar de antecedentes ou cânones experimentais que acabam constituindo estados formativos para diretamente evidenciar aquele valor ideal que existe dentro de si mesmo.

Excelente desenhista e de temperamento exuberante, Jomar Monteiro persegue desde o início o caminho das grandes composições, exatamente no momento em que imperava o mito do fragmento e aqueles que afrontavam as amplas figurações para contar episódios exaltando ações humanas.

Ao examinar a sua obra temos a impressão que o caminho deste artista se desenvolve num clima épico da pintura figurativa, habilmente enxertada com referências mitológicas e históricas que ligam suas obras a uma iconografia de temas clássicos.

Através da obra "Eros", doada ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, Jomar Monteiro inspirado pela corposidade das imagens, uma visão escultórica das massas e o rigor da composição revela o caráter de sua personalidade.

O Artista


Jomar Monteiro nasceu em São Paulo onde formou-se pela Faculdade de Belas Artes e pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.

Desde 1986, atua como pintor, escultor e restaurador, adquirindo experiência em áreas multidisciplinares como a cenografia, arte digital, fotografia, xilogravura, litografia, serigrafia, desenho de animação e cinema. Após ter vivido em Havana (Cuba) e Madri (Espanha) onde abriu ateliers regressou a São Paulo onde reside e exerce suas atividades.

Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, entre elas:
Câmara Municipal de Rinópolis/SP; Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo " FAU / USP; Faculdade de Belas Artes de São Paulo / SP; Paleta de Ouro (Salão Portinari) SP (1989); IV Mostra de Arte Jovem de Avaré / SP; Mostra de Gravuras centro Cultural Butantã / SP; II Salão de Artes Plásticas de Avaré / SP; VIII Mostra de Artes Plásticas Casa Branca / SP (1990); XII Salão de Artes Jovem de Santos / SP; III Salão de Artes Plásticas de Avaré / SP; Câmara Municipal de São Paulo " Instalação: "Arte e Pensamento Ecológico" (1991); VI Semana de Arte " Faculdade Anhembi-Morumbi / SP; Mostra de Arte Coletiva de Batatais / SP; Instalação PUCAMP -= Campinas / SP; Mostra de Arte Coletiva de Tupã / SP; Exposição "Novos Artistas" SESI " São Paulo / SP; IV Salão de Artes Plásticas de Avaré / SP (1992); XXII Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba / SP; Centro cultural de Santos / SP; I Salão de Artes Plásticas de Guarulhos / SP; III Salão de Artes Plásticas de Presidente Prudente / SP (1993); Galeria Jasmim " São Paulo / SP; I Salão de Arte Contemporânea de Santo André / SP; III Salão de Artes Plásticas SPFC São Paulo / SP; Espaço Cultural Metropolitano São Paulo / SP; Gravuras " Espaço Cultural Chap-Chap São Paulo / SP (1994); IX Semana de Arte " Faculdade Anhembi-Morumbi São Paulo / SP; Câmara Municipal de São Paulo / SP "Subjetividade do Movimento"; II Salão de Arte Contemporânea de Santo André / SP; V Salão de Artes Plásticas de Presidente Prudente / SP; IV Salão de Artes Plásticas SPFC São Paulo / SP (1995); Museu de Artes Plásticas Quirino da Silva "Mitológicas" " Mococa / SP; Câmara Municipal de São Paulo "Mitológicas" " São Paulo / SP (1996).

Possui obras em diversas coleções particulares na Europa, Cuba, Brasil e no Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.