Pitis homéricos do showbiz
Celebridades são protagonistas de barrracos federais, como a do vocalista da Green Day; estresse, vaidade ou drogas podem motivar esses comportamentos
Fellipe Torres - Diário de Pernambuco
A banda de rock Green Day havia sido anunciada como uma das atrações da semana passada do programa norte-americano Jimmy Kimmel Live, exibido pelo canal ABC. No dia em questão, entretanto, os telespectadores não sabiam o que esperar. Quatro dias antes, o vocalista Billie Joe Armstrong havia dado o maior escândalo durante um festival de música, e há 48 horas estava internado por "abuso de substâncias". O cantor perdeu o controle depois de ter o tempo de apresentação cortado. Avisado pela organização do evento para finalizar o show dentro de um minuto, ele interrompeu a música Basket Case No lugar de Billie Joe, o programa de televisão trouxe a canadense Alanis Morissette para uma versão acústica da canção interrompida no show do Green Day. Além de ser um dos maiores sucessos da banda, Basket case (algo como “caso perdido”, em português) tornou-se ainda mais emblemática para o caso do vocalista. Acompanhada somente por um piano, Alanis deu continuidade à voz do roqueiro: "Você tem tempo/ Pra me ouvir choramingar/ Sobre nada e tudo ao mesmo tempo?/ Eu sou um desses/ Tolos melodramáticos/ Neurótico até o osso/ Sem dúvida nenhuma./ Às vezes eu me arrepio/ Às vezes minha mente apronta comigo/ Isso tudo se acumula/ Acho que estou pirando/ Eu estou paranóico?/ Estou apenas chapado". Esse não foi o primeiro nem será o último barraco armado por frequentadores do show business. As gafes fazem parte da rotina dos palcos e podem ter motivos diversos, até mesmo aqueles sugeridos pela música do Green Day. Com a orientação do psicólogo pernambucano Fernando Palhano, listamos as causas mais prováveis para os escândalos, barracos e pitis.
Chorão (Charlie Brown Jr.) É provável que o apelido de Alexandre Magno Abrão, vocalista da banda Charlie Brown Jr. tenha sido colocado com o sentido de “reclamão”. Tudo bem que ele e o baixista da banda, Champignon, nunca se deram bem, a ponto do músico já ter deixado o grupo em 2005, e só ter retornado no ano passado. Mas no mês passado o cantor protagonizou uma longa “lavagem de roupa suja” nos palcos, de quase dez minutos. Caetano Veloso Ao lado do músico escocês David Byrne, Caetano Veloso subiu ao palco do Video Music Brasil 2004, programa transmitido ao vivo, para interpretar Nothing but the Flowers. Após uma sucessão de falhas no áudio, o baiano não aguentou: "Pessoal da MTV: vergonha na cara! Vamos começar de novo, e bota essa p**** pra funcionar direito, pra gente cantar certo nessa p****. Respeito!”
Rita Lee
No início deste ano, a roqueira resolveu se despedir dos palcos. Mas antes disso, em uma das últimas apresentações, xingou policiais na frente da plateia. Depois da show, foi presa por desacato. Kelly Key Carlinhos Brown Carlinhos Brown protagonizou o primeiro escândalo da história do Rock In Rio, em 2001. O músico cantava a música Uma Brasileira e, em troca, recebeu uma chuva de garrafas plásticas e outros objetos no palco. Carlinhos reclamou e chamou a atenção da plateia, que nem ligou para o sermão do cantor. Em protesto, Brown disse: "Podem jogar o que quiser, eu sou da paz e nada me atinge..." Zezé Di Camargo e Luciano Amy Winehouse O uso de drogas associadas ao álcool acompanhou boa parte da carreira da cantora de Rehab. Em um de seus shows, realizado em Belgrado, na Sérvia, Amy subiu ao palco aparentemente embriagda, esquecendo as letras e abandonando o palco no meio das músicas. A artista chegou ao ponto de arremessar um de seus sapatos na própria banda. Ela terminou a apresentação sob vaias do público. Maria Bethânia No meio de uma música, a cantora já deu bronca no iluminador porque o profissional insistia em utilizar apenas a luz verde. Em outra ocasião, reclamou com a plateia. “Não consigo entender vocês não me ouvirem. Quem tiver bebendo, bebe um pouquinho menos e fala um pouquinho mais baixo”. Dado Villa Lobos No show de homenagem à banda Legião Urbana, organizado este ano com participação do ator Wagner Moura nos vocais, o guitarrista se desentendeu com um homem da plateia. Segundo ele, o homem estava xingando e provocando o grupo. Dado respondeu: “Vai pra casa, querido. Teu lugar não é aqui, sai! Vai, vai, vai!”. Após os seguranças expulsarem o homem, o guitarrista explicou: "Ele xingou a minha mãe. Desculpem-me". (menção especial) Ana Maria Braga A apresentadora não frequenta palcos, mas merece uma menção especial pela praga rogada ao ex-marido da atriz Suzana Vieira em 2008, ao vivo no programa Mais Você. Duas semanas depois de Ana Maria Braga sugerir que Marcelo Silva “desaparecesse da face da Terra”, o ex-policial foi encontrado morto por overdose de cocaína. Os pecados do estresse Quando há uma “explosão” ou vazão de sentimentos, explica o psicólogo pernambucano Fernando Palhano, é porque havia algo contido. Existe uma luta permanente entre uma força que impulsiona a expressão dos sentimentos e outra força antagônica que os reprime, fazendo acumular as emoções. “É provável que o artista tenha acumulado uma carga de estresse. Vai depender muito do perfil de cada um, se ele tem tendência ou não de reprimir”, pontua. Na opinião do especialista, apenas o fato de subir no palco já é um agravante, pois trata-se de experiência muito estressante, até mesmo para grandes artistas. Perfeccionismo Podem haver casos particulares, como o de João Gilberto, conhecido pelas incontáveis “broncas” na plateia e pela exigência de silêncio absoluto em suas apresentações. “Sabemos que ele é extremamente perfeccionista, ao ponto pedir para desligar o ar condicionado. Mas é preciso avaliar com cuidado, pois talvez ele tenha um ouvido privilegiado, o que é um dom, embora possa atrapalhar nessas ocasiões”, pondera Fernando Palhares. Drogas O uso de drogas entre músicos já provocou incontáveis trapalhadas nos palcos. O psicólogo esclarece que “as substâncias dominam a censura e a auto-crítica”. Assim, o artista fica suscetível a qualquer tipo de ação impensada. Vaidade Para psicológo, o narcisismo de muitos artistas é outro fator a ser considerado. “Muitos têm um grande teor de vaidade, e acabam desenvolvendo seus caprichos”. |