Vilna Palhano - O nosso Rio de Janeiro

“Neste meu retorno a Manaus, li sua crônica ‘O meu Rio de Janeiro’. Poderia ser ‘O nosso Rio de Janeiro’. Com que riqueza de detalhes você vislumbrou os cantinhos célebres do nosso Rio, cantados em versos e prosa, como em ‘Rio de Janeiro, Gosto de Você’ ou em ‘Copacabana, Princesinha do Mar’. A presença assídua de jovens, ao lado de intelectuais, no Cabanas, no Lamas, com quantos discursos inesquecíveis de Júlio César, Amélia Lacombe, Cleonice Berardinelli, Emílio Santiago e Anselmo Goes (hoje, colunista de O Globo). Em Ipanema, Afonso Romano de Santana e esposa, Vinicius de Morais, Toquinho, João Gilberto e o poeta Gilberto Mendonça Telles. Nas terças e quartas-feiras, tínhamos o Teatro Opinião, onde se apresentavam dona Ivone Lara, Clara Nunes, Cartola, Pixinguinha, Beth Carvalho, entre tantos e tantas, os iniciantes, Chico Buarque, Caetano e Gilberto Gil. Com colegas da PUC, amigos do dia a dia, o entardecer em Copacabana e o chopinho no calçadão, tudo era motivo de reunião, para um bate-papo prolongado. Hoje, tudo tão descartável. Não nos demos conta e quando abrimos os olhos descortinamos um mundo sem referências, sem identificação emocional e intelectual, tudo muito piegas e fugaz. Ainda bem que tivemos a oportunidade de viver e conviver com outro Rio de Janeiro. Amigo, quero agradecer pela oportunidade de me ter transladado aos anos bem passados e aos bancos acadêmicos”.
É isso aí, Vilna. É o nosso Rio de Janeiro, que ninguém jamais nos roubará, porquanto guardado definitivamente na memória. Este espaço de jornal é pequeno para traduzir o clima que vivenciei na ‘Cidade Maravilhosa’, de André Filho, com minhas passagens pelo Centro, Lapa, Ipanema, Leblon, Vila Isabel, Tijuca, Penha e Madureira, com sua extraordinária diversidade cultural.
A verdade é que o mundo, e não apenas o Rio, está perdendo a graça e o sentimento, tornando-se insípido e inodoro, de forma progressiva e assustadora. Paciência, é assim mesmo, no universo que ora relembramos, a vida sempre foi plena, cheia de encantos, que animaram os nossos melhores dias.
Há certa apatia que detém a criação do belo. A indiferença é dominante e sufoca. Perdemos o ambiente que outrora explodia de genialidade e talento e nenhuma cidade mais do que Rio padece diante da ausência geral ou da lerdeza. Não há nada de novo que mereça ou desperte vivo entusiasmo, em todos os sentidos, nas artes e na política. Espero que a crise profunda um dia passe. Embora longe de ser panglossiano, continuo cultivando o otimismo."